No comando da Delegacia Especial da Mulher de Arujá desde sua inauguração, em março de 2021, a Dra Vanessa Torres Chagas corre contra o tempo para garantir que todos os inquéritos instaurados nesta unidade sejam finalizados e relatados dentro do prazo garantindo a possibilidade de que a justiça seja feita em favor das vítimas, sejam mulheres ou vulneráveis, com a responsabilização dos autores da violência. Com o auxílio da Guarda Municipal, através da Patrulha Maria da Penha, a repressão à violência contra a mulher tem sido concretizada. Mas em resposta ao questionamento do jornal, ela deixa claro que isso não basta para mudar o panorama de violência contra a mulher no município e no Brasil, é preciso discutir os conceitos do machismo e reeducar a sociedade.
Desde sua inauguração, em março de 2021, a Delegacia da Mulher em Arujá registrou 02 casos de feminicídio, sendo um 2021 e outro em 2022, cujos autores estão presos, aguardando julgamento. No ano passado foram instaurados cerca de 250 inquéritos envolvendo casos diversos de violência física, sexual e psicológica contra a mulher e também contra vulneráveis (crianças e adolescentes).
De janeiro até 03 de março de 2023, a DDM de Arujá registrou 34 pedidos de medida protetiva, ou seja, quando as vítimas se vêem agredidas ou ameaçadas física ou psicologicamente. “Eu e minha equipe prezamos pela rapidez em instaurar os procedimentos para que possamos encaminhar esses pedidos à Justiça o mais rápido possível e, felizmente o Judiciário de Arujá tem uma resposta muito positiva e na maioria dos casos a medida protetiva foi deferida”, informa a delegada, esclarecendo que estas medidas podem definir o afastamento do agressor do lar ou local de convivência com a vítima, ou a fixação de um limite mínimo de distância da vítima, que ele fica proibido de ultrapassar.
Em Arujá são poucos os homens que ousam descumprir essas medidas. “Isso porque aqueles que o fazem são presos em flagrante ou mesmo por meio de preventiva.E nas rodas de conversa, seja em bares, igrejas, empresas, as pessoas ficam sabendo da prisão, o que inibe a maioria. Além disso, nós temos o acompanhamento feito com estas mulheres pela patrulha Maria da Penha, da Guarda Municipal. É um acompanhamento rotineiro das mulheres que optam pelo programa e muito bem realizado em que a vítima é orientada e tem condições de agir muito rápido caso haja o seu agressor venha a tentar se aproximar, podendo acionar a patrulha através do botão do pânico, por meio de aplicativo”, esclareceu a Dra Vanessa.
Nova visão
De acordo com a delegada, não existe necessariamente um perfil da mulher que é agredida. “As vítimas são pessoas de condição social e cultural diversas. Mulheres de bairros mais humildes como de condomínios, mulheres com um nível maior de escolaridade ou bom emprego. Não há um perfil sócio econômico”, adiantou.
“A violência é motivada pela questão social, ou seja, o machismo e agravada pelo alcoolismo, portanto é resultado de uma visão distorcida de que a mulher é propriedade do homem. Por conta disso ele não aceita o fim dos relacionamentos e agride, ameaça e insurge contra a vida da mulher. Essa visão precisa ser discutida e transformada e para isso é necessário que haja o engajamento da sociedade, incluindo escolas, igrejas, entidades, órgãos públicos. O assunto tem que ser analisado e essa nova visão apresentada não só às mulheres, mas também para as adolescentes, de que elas não devem tolerar maus tratos, nem agressões pelo fato de serem mulheres e que tem a mesma liberdade que o homem para decidir se um relacionamento deve ser mantido ou não. Elas têm direitos que devem ser respeitados.
“ Porque é isso o que traz equilíbrio, entender que as pessoas são livres para manter um relacionamento. A mulher deve compreender isso e procurar ajuda antes que essa violência evolua para algo mais grave e os próprios homens precisam avaliar essa masculinidade tão frágil que apresentam e entender a dinâmica atual da sociedade, na qual estar num relacionamento amoroso é consensual. Acredito que isso é o começo de uma nova educação”, disse.
Segundo a Dra Vanessa, há que se respeitar até mesmo a decisão de algumas mulheres, que, após denunciarem seus companheiros e fazer com que sejam responsabilizados por suas agressões, resolvem reatar o relacionamento. “Eu entendo que não devemos criticar, pois cada mulher tem o seu discernimento para saber se houve ou não mudança. O ideal é que todo o trabalho realizado em prol da segurança da mulher produza uma conscientização por parte da sociedade sobre os papeis de cada um. Se a mulher entender que houve mudança e quer dar uma chance ela tem esse direito, e pode ter certeza de que se nós estaremos aqui para fazer de novo o nosso papel se for necessário, reprimindo a violência da qual ela é vítima”, finalizou.
A Delegacia de Defesa da Mulher fica na Praça Bartolomeu Bueno, 7, ao lado da Delegacia Central de Arujá.