As dezenas de folhas em branco no caderno de N.F., de 08 anos, aluno do 3º B da Escola Municipal Julia Mitie Mine, representaram um alerta para sua mãe, que imaginou que o filho talvez estivesse com alguma dificuldade séria.
O garoto sempre foi um aluno aplicado, mas simplesmente não tinha mais lições no caderno. E isso destoava muito do que ele havia apresentado até então. O seu interesse pelas matérias também parecia ter desaparecido.
A administradora Janaína Falcão acompanha de perto a vida escolar do filho, cuidou para que o garoto fosse sempre bom aluno, estudioso e disciplinado, e recebeu com espanto as mudanças drásticas no desempenho escolar e na disciplina do filho.
“Fiquei muito assustada. Percebi que ele tinha apenas dez folhas preenchidas em um período de dois meses. Além disso, em casa, ele começou a apresentar um comportamento muito complicado. Quando o mandava tomar banho, respondia que não iria porque havia aprendido com o professor R.N. que ele podia decidir tudo sozinho”, contou Janaína.
Outras mães notaram mudanças no comportamento dos filhos, entre elas a queda drástica no desempenho. “Percebi que meu filho desaprendeu muita coisa e está tendo mais dificuldades do que os alunos do 3º A”, afirmou a comerciante Jaqueline Bezerra Brito.
Uma terceira mãe, que preferiu não se identificar por se sentir intimidada pela postura do professor, reclamou de mudanças na disciplina na filha. O uso de funk em aula e debates sobre sexualidade também incomodam: as crianças têm entre 07 e 08 anos.
Segundo as mães, a metodologia do professor recém-chegado consiste em substituir matemática por xadrez, conteúdo didático por “rodas de conversa”, muito tempo livre no pátio, de maneira que os cadernos de seus filhos voltam cada vez mais vazios.
Funk e sexualidade
Em uma classe formada por crianças entre sete e oito anos, seria esperado que qualquer iniciativa de discussão sobre sexualidade fosse previamente acertada com os pais e responsáveis. Não foi o que aconteceu com a turma do 3º B da EM Julia Mitie Mine.
“Foi feita essa conversa na aula e eu não gostei. Acredito que existe uma maneira prudente e correta de se fazer isso, com a autorização dos pais. Aliás, entendo que são os pais quem devem falar sobre isso com seus filhos”, afirmou a comerciante Jaqueline.
As mães também se sentem incomodadas com o uso de músicas de linguagem sensual nas aulas, incluindo o funk.“O meu filho é proibido de ouvir esse tipo de coisa em casa. Eu fico terrificada em saber que justo na escola ele é estimulado a ouvir”, destacou Janaína.
“Meu filho não consegue mais fazer contas”
A comerciante Jaqueline Bezerra Brito sempre entou estimular o desempenho do filho G.B., 08 anos, também aluno do 3º B da EM Julia Mitie.
Ela se diz “assustada” com o retrocesso do filho em matérias nas quais antes tinha um bom desempenho. “A mudança foi brusca. Meu filho não consegue mais resolver contas de divisão, multiplicação, somar. Ele tinha mais agilidade pra isso”, contou.
A comerciante também reclama da “omissão” demonstrada pela direção da unidade, que, segundo Jaqueline, ouviu as reclamações das mães em diversas ocasiões e não tomou atitude para além de uma reunião com o professor que não teria resolvido nada.
“Na minha avaliação, ela está acobertando todos os erros. A diretora já percebeu que o professor falhou, mas, mesmo assim, não fez nada a respeito”, disse Jaqueline.
“Direção não deu solução”
O problema na Julia Mitie Mine se desenrola há quatro meses. As mães dizem que manifestaram sua insatisfação para com a diretora da unidade, Lídia, em diferentes ocasiões. E chegaram a registrar tudo em um caderno de queixas na unidade.
Porém, teriam ouvido da diretora que pouco poderia ser feito porque o professor, em sala de aula, poderia usar sua metodologia. Como o problema continuou e as três mães não desistiram de tentar uma solução, uma reunião foi marcada.
O professor teria se apresentado às mães como um “militante anti-autoristarismo” como forma de explicar a ausência de lições de casa. “Acho isso de uma arrogância imensa. Quem quer fazer experimento social, faça com seus filhos, se tiver, ou em uma universidade. Com meu filho, não!”, protestou.
As mães se disseram desrespeitadas pela postura do professor. “Ele se diz um professor anti-autoritário, mas nos tratou de maneira arrogante e autoritária, usando de citações para nos diminuir”, completou.
Desgaste e desrespeito
As três mães procuradas pelo Jornal, ao longo da semana, decidiram pedir a transferência de seus filhos para outras unidades diante do que julgarem ser um prejuízo enorme ao desenvolvimento intelectual dos seus filhos.
“Foi um desgaste enorme. O professor, depois da reunião, ainda comentou sobre isso em sala de aula, nos criticou por termos procurado a direção. Com isso, os nossos filhos viraram alvos de cobranças e chacotas dos colegas”, disse a mãe G.S., que já transferiu a filha.
Elas procuraram a Ouvidoria da Secretaria Municipal de Educação e relataram a situação, que não era de total conhecimento da gestora da Pasta (confira nota abaixo).
“Sou tratada como alguém que não tem inteligência suficiente para saber o que é bom para o meu próprio filho. Toda vez que converso com o professor R.N., ele usa citações livrescas para se arrogar um conhecimento sobre meu filho que só ele pode ter”, disse Janaina.
Secretaria de Educação diz que tomou providências
De acordo com a secretária de Educação, Priscila da Silva Rosa Sidorco, que atendeu o Jornal ontem, assim que a situação chegou ao conhecimento da Pasta, todas as providências devidas foram tomadas, conforme o regimento interno determina.
Priscila explicou que existem procedimentos e etapas, determinados pelo regimento, para lidar com situações envolvendo os profissionais da rede municipal. Assim, em maio duas técnicas da Pasta visitaram a unidade escolar e passaram o período com o professor. Após a visita o professor recebeu uma “orientação por escrito”.
A Secretaria informou ainda que logo que a diretora da unidade comunicou as queixas e pedidos de esclarecimentos feitos por mães, imediatamente foi orientada pela Diretoria de Núcleo Pedagógico da Secretaria a seguir as seguintes orientações e providências:
“Acolher as mães; Pedir para que elas registrassem por escrito; Chamar o professor imediatamente e realizar orientação ao trabalho para tomar ciência com vistas às Leis que protegem o menor; Encaminhar os registros à Secretaria de Educação para análise e apreciação para devidas providências as condutas do professor”.