Com argumentação totalmente fundamentada nas Sagradas Escrituras, o Simpósio realizado no último sábado(06) pela Igreja Tua Graça e Vida respondeu positivamente e sem deixar qualquer dúvida que a ordenação feminina ao pastorado é legítima. Durante as explanações dos textos bíblicos e posterior debate, os cinco especialistas participantes concordaram que Jesus em seu ministério elimina totalmente o preconceito em torno da questão de gênero e que o próprio apóstolo Paulo, normalmente citado como alguém contrário a uma participação ativa da mulher no pastorado, enaltece algumas figuras femininas que se destacaram na função no início da igreja primitiva.
Com profundo conhecimento teológico, a advogada, teóloga, mestre em liderança cristã e pastora Camila Valverde, fez um verdadeiro passeio pelo Velho e o Novo Testamento, analisando textos comumente utilizados para negar a legitimidade da ordenação feminina e ao final, mostrou que embora não haja citações diretas sobre mulheres pastoras, não há nenhuma proibição expressa à ordenação feminina. “Temos que ter em mente o fato de que Deus quando proíbe algo é bastante claro o objetivo, se expressando, por exemplo, com relação aos mandamentos não matarás, não adulterarás, não cobiçarás a casa do teu próximo, nem a sua mulher, a sua serva, nem o seu servo ou seus animais”, disse ela.
Entre outros esclarecimentos Camila também argumentou que não se pode tomar como regra o sacerdócio aarônico para fazer um paradigma com o Novo Testamento, já que o sacerdócio aarônico aponta para Cristo. “Cristo é o sacerdote supremo e após ele o sacerdócio aarônico é extinto. E em Cristo todo crente, seja mulher ou homem é sacerdócio real” destacou.
O professor Mateus Rangel, teólogo com ênfase em línguas bíblicas, exegese e hermenêutica, também defendeu de forma convicta a ordenação feminina ao pastorado, avaliando nos idiomas originais os textos bíblicos que são utilizados como referência contrária a esta ordenação e desconstruiu equívocos, principalmente quanto à fala do apóstolo Paulo sobre as mulheres em Timóteo 2:11 e 12. “Paulo não veta a mulher de exercer o pastorado e sim de tagarelar durante o culto. E no mesmo texto ele também faz recomendações aos homens sobre levantar mãos santas, sem ira e sem discussões”.
Ele também destacou o fato de que Paulo faz menção a Junia, uma mulher notável entre os apóstolos e companheira de prisão (Romanos 16:7), assim como Priscila que junto com Áquila mantinham em casa uma igreja. “Eram mulheres que provavelmente exerciam um pastorado”, disse, com base no estudo do idioma grego.
Fazendo também uma análise detalhada do texto de Efésios 4:11 no idioma grego antigo, o PHD em Teologia, professor de grego bíblico e radialista Roberto Cruvinel argumentou que nele o apóstolo Paulo afirma que Deus concede dons ministeriais às pessoas independente do gênero. “Se o Senhor, como afirma o Evangelho, concede dons e Ele mesmo deu uns para apóstolos e outros para profetas e outros para evangelistas, outros para pastores e doutores, quem somos nós para dizer que a ordenação feminina ao pastorado não tem legitimidade bíblica? Se a mulher profetiza, como é que podemos dizer que ela não pode ser pastora?
Após a explanação bíblica de textos que supostamente contrariam a ordenação feminina, foi realizado um debate com a participação também do teólogo e pastor Joaquim Andrade, fundador do Instituto Creia Brasil, e do advogado Ivan de Oliveira Duraes, os quais também foram da opinião que existem distorções e aplicações dos mesmos fora de contexto. Aos cinco foi apresentada a questão sobre como combater o machismo dentro das igrejas e a resposta unânime foi que o machismo é um desvio de comportamento cristão e que só será possível combatê-lo ensinando cada pessoa a ser um discípulo de Cristo, pois Ele quebrou todas as barreiras, incluindo a barreira do gênero.
Entusiasmo
A dinâmica do simpósio foi elogiada pelo público e o resultado proclamado com entusiasmo. “Estou muito feliz por tudo que ouvi aqui hoje. Sou estudante de teologia e tenho encontrado, mesmo no meio pentecostal, uma resistência à ordenação do pastorado feminino. Foi a primeira vez que ouvi argumentos tão consistentes e convincentes em defesa das mulheres na função do pastorado”, afirmou Tatiane de Couto, que é membra da Assembleia de Deus Ministério Belém.
“Foi um debate produtivo e esclarecedor com a participação de pessoas muito sérias e conhecedoras do assunto”, disse por sua vez Nice Silva que acompanhou o simpósio em companhia do esposo Jéferson.
Anfitriã da noite, a pastora Flávia Rodrigues se disse muito feliz com a experiência do simpósio, pois ela trouxe uma reflexão bastante sériae ampla sobre a visão do reino. “O Senhor ordena mulheres e ordena homens para servir a Ele com Excelência. Esse para mim foi o principal resultado deste simpósio”, afirmou.
Não menos feliz, o idealizador do evento, pastor Jessé Odilon, titular da Igreja Tua Graça e Vida, destacou a qualidade das explanações e dos debates e falou sobre a disposição da Igreja em realizar novos eventos para a reflexão de assuntos que acabaram surgindo na esteira do tema sobre a ordenação feminina. “Quem sabe possamos discutir Efésios 4:11, sobre os dons para o apostolado, pastorado, profetas, doutores e mestres. Vejo isso com entusiasmo diante do sucesso resultante desta primeira experiência”, concluiu.