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Tabu em queda: homens estão mais atentos à saúde íntima, mas ainda resistem ao toque retal

Tumor mais frequente entre os brasileiros, o câncer de próstata representa cerca de 30% de todos os diagnósticos oncológicos masculinos, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). A boa notícia é que o reconhecimento precoce tem crescido de forma expressiva. Mais de 80% dos casos já são identificados em fase inicial, o que eleva as chances de cura.

O aumento da sobrevida e a melhora dos resultados cirúrgicos são reflexos, principalmente, do maior acesso a consultas urológicas e do avanço tecnológico, com a evolução da radioterapia e, sobretudo, a cirurgia robótica, que oferece maior precisão e reduz o impacto de efeitos colaterais, como a incontinência urinária e a disfunção erétil.

“De certa forma, o tratamento começa a deixar de ser assustador para o paciente. A robótica reduziu sequelas e trouxe mais segurança”, explica o urologista Dr. Reinaldo Uemoto, do Hospital Santa Catarina – Paulista. Mesmo com esses avanços, um obstáculo ainda persiste: o tabu masculino em relação ao toque retal e à saúde íntima.

O urologista Dr. Paulo Maron, do Hospital Santa Catarina – Paulista, observa que ainda há quem evite o consultório por receio do exame impactar a virilidade. “O constrangimento relacionado ao toque e o medo de sequelas do tratamento são barreiras, mas quando ele entende que boa parte dos efeitos é temporária e tratável, enfrenta melhor o processo.”

“Ainda há homens que evitam o consultório por receio de mexer em uma área que simboliza a masculinidade”, observa o urologista Dr. Paulo Maron, do Hospital Santa Catarina – Paulista. “O medo de sequelas e o constrangimento são barreiras, mas quando ele entende que boa parte dos efeitos é temporária e tratável, enfrenta melhor o processo.”

Acolhimento e apoio emocional
Mesmo com as campanhas, muitos homens só marcam consulta por incentivo das parceiras. Abordar de forma clara as preocupações e prioridades pode facilitar decisões sobre o rastreamento do câncer de próstata e melhorar a satisfação e até mesmo os resultados dos pacientes.

Como estratégia, Dr. Maron mostra aos atendidos depoimentos de operados e sua evolução e o status do tratamento: “Temos uma comunidade, um grupo onde eles entram e conversam entre si sobre cada etapa. É importante trazê-los para o mesmo nível de entendimento, para que saibam que não estão sozinhos nessa jornada”.

O atendimento integrado é essencial. “O câncer de próstata é altamente curável quando diagnosticado cedo. Não é sobre perda de masculinidade, mas sobre preservar a vida. O diagnóstico ainda assusta, mas o acompanhamento multidisciplinar, com psicólogos, fisioterapeutas e equipe médica experiente, faz toda diferença”, diz o especialista.

Incontinência e disfunção
A faixa etária de maior prevalência do câncer de próstata é entre 58 a 70 anos, que representa mais de 60% dos casos. Novas drogas (imunoterápicos, quimioterápicos ou terapia hormonal) têm ampliado a sobrevida e, principalmente, a qualidade de vida dos pacientes com neoplasia maligna da próstata avançada, reduzindo os efeitos do tratamento.

Na maioria dos casos, a incontinência urinária é temporária e melhora com fisioterapia – apenas de 3 a 5% precisam de cirurgia. A disfunção erétil tende a se resolver entre 3 a 12 meses. As terapias orais e estimulação elétrica ou por ondas de choque abreviam o período. Em situações persistentes, há tratamento por injeção ou cirurgias reparadoras.

“Hoje em dia, é cada vez menos frequente o paciente precisar de alguma intervenção. Diferente de como era no passado, cada vez mais, a recuperação acontece de forma natural, especialmente quando se faz tudo o que é recomendado no pós-operatório, com fisioterapia, acompanhamento, uso de medicamentos, etc”, afirma Maron.

Prevenção e rastreamento
O exame de sangue PSA e o toque retal continuam sendo o padrão ouro para o rastreamento da doença, explicam os especialistas. “É importante explicar que cerca de 10% dos tumores não apresentam alteração no PSA, então o toque ainda é indispensável”, reforça o Dr. Reinaldo Uemoto.

A recomendação é que homens a partir dos 50 anos procurem um urologista. No entanto, explica Dr. Paulo Maron, a avaliação é cada vez mais individualizada. Aqueles com histórico familiar, obesidade, mutação genética relacionada a câncer ou ascendência negra, por exemplo, devem iniciar o acompanhamento aos 45 anos (ou até antes).

“Nossa expectativa é que o Novembro Azul seja o ponto de virada no comportamento masculino em relação à própria saúde. Que os homens procurem seu urologista para fazerem o check up e não tenham receio de esclarecer dúvidas e anseios. A boa informação é o caminho para a mudança – e salva vidas”, conclui Dr. Reinaldo Uemoto.

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